sábado, 30 de agosto de 2025

O A-29 Super Tucano e a versão A-29N para a Força Aérea Portuguesa

O Embraer A-29 Super Tucano é um dos turboélices de ataque ligeiro e treino avançado mais bem-sucedidos do mundo, somando mais de 260 unidades produzidas e em operação em mais de 15 forças aéreas. Concebido como uma plataforma robusta, de baixos custos operacionais e elevada versatilidade, o Super Tucano provou o seu valor em teatros de operações reais, acumulando mais de 550 mil horas de voo, das quais 60 mil em combate.

Com a decisão de adquirir 12 aeronaves A-29N — uma versão especialmente configurada segundo os padrões NATO — a Força Aérea Portuguesa (FAP) tornar-se-á o primeiro operador europeu da plataforma, reforçando as suas capacidades de treino avançado, apoio aéreo aproximado (CAS) e vigilância armada (ISR).

 

O A-29 Super Tucano – A Plataforma Standard

O A-29 Super Tucano standard foi desenvolvido para desempenhar missões de ataque ligeiro, contra-insurgência, vigilância, patrulhamento armado e treino avançado de pilotos.

Propulsão e desempenho

A aeronave é equipada com um motor Pratt & Whitney PT6A-68C, debitando 1 600 shp, que lhe permite atingir 590 km/h de velocidade máxima, um teto operacional de 10 668 m e uma razão de subida de 3 240 ft/min. A autonomia ronda os 1 330 km (3,4 horas), podendo ser estendida até 5,2 horas com tanques externos.

Estrutura e cockpit

Com um peso máximo à descolagem (MTOW) de 5 400 kg, o A-29 foi concebido para operar em pistas não preparadas, garantindo elevada disponibilidade. O cockpit, compatível com óculos NVG, adota filosofia HOTAS, HUD e três MFD digitais, replicando a interface de caças de 4.ª geração.

Aviónicos e sensores

O sistema de missão inclui INS/GPS, gravador de dados de voo, sistema de treino embutido (Embedded Training System), e a possibilidade de integração de sensores EO/IR com designador laser, viabilizando o emprego de armamento guiado.

Armamento

O A-29 transporta duas metralhadoras FN Herstal M3P .50 (12,7 mm) integradas, com 200 munições cada, e até 1 550 kg de carga externa distribuída por cinco pilones. O leque de armamento inclui bombas guiadas a laser (GBU-12/58), JDAM, foguetes guiados, mísseis AGM-114 Hellfire, pods de canhão de 20 mm, bem como armamento não guiado. O Stores Management System (SMS) oferece modos de lançamento CCIP e CCRP.

 


O A-29N – A Configuração NATO para Portugal

A versão A-29N foi desenvolvida pela Embraer em cooperação com parceiros portugueses, de modo a cumprir os requisitos operacionais e de interoperabilidade NATO, representando um salto qualitativo face à versão standard.

Comunicações e interoperabilidade

O A-29N incorpora rádios V/UHF seguros com encriptação, SATCOM integrado, Link 16, ROVER para transmissão de vídeo em tempo real e DACAS (Digital Aided Close Air Support), essencial para operações CAS modernas em ambiente multinacional.

Sistemas defensivos

A nova versão recebe uma suite defensiva alargada, com MAWS (aviso de mísseis), RWR (aviso radar), lançadores de chaff e flares (CMDS) e blindagem reforçada. Esta configuração aumenta a capacidade de sobrevivência em cenários de maior ameaça.

Sensores e navegação

Equipada com uma torreta EO/IR de última geração, designador laser integrado e navegação EGI compatível com padrões NATO, o A-29N permite emprego de armamento de precisão e integração plena em operações conjuntas.

Treino avançado

A FAP irá dispor de simuladores de última geração, com realidade virtual e aumentada, além do Embedded Training System, permitindo reduzir as horas de voo real necessárias para treino de pilotos.

Apoio logístico e industrial

O contrato, avaliado em 200 milhões de euros, inclui não só aeronaves e simuladores, mas também um pacote logístico e de suporte industrial, com participação de empresas nacionais como OGMA, CEiiA, GMV e Empordef. Estima-se um retorno de 75 milhões de euros para a indústria portuguesa, fortalecendo a soberania tecnológica nacional.

 

Comparação Técnica – A-29 vs A-29N

Característica

A-29 Super Tucano (Standard)

A-29N (Versão NATO – Portugal)

Motor

Pratt & Whitney PT6A-68C (1 600 shp)

Igual

Velocidade máx.

~590 km/h

~590 km/h

Teto de serviço

10 668 m

10 668 m

Razão de subida

~3 240 ft/min

~3 240 ft/min

Autonomia

~1 330 km (~3,4 h)

Até 5,2 h com tanques externos e sensores

Peso máx. descolagem (MTOW)

5 400 kg

5 400 kg

Armamento fixo

2× metralhadoras .50 (12,7 mm)

Igual

Carga externa

Até 1 550 kg em 5 pilones

Até 1 550 kg em 5 pilones, com SMS NATO

Armamento suportado

Bombas guiadas, foguetes guiados, AGM-114 Hellfire, pods 20 mm, não guiado

Igual, mas com integração plena NATO (SMS conforme STANAG, Link 16)

Cockpit

HOTAS, HUD, 3× MFD, NVG

Igual, com software NATO e mission data loads

Aviônicos e sensores

INS/GPS, EO/IR opcional, ETS

EO/IR avançado, designador laser integrado, EGI NATO, mission data loads

Comunicações

Rádios V/UHF standard

V/UHF seguros, SATCOM, Link 16, ROVER, DACAS

Sistemas defensivos

CMDS básico

MAWS, RWR, CMDS avançado, blindagem reforçada

Treino

Embedded Training System (ETS)

ETS + simuladores VR/AR/MR

Manutenção

Estrutura robusta, pistas não preparadas

Igual, com apoio industrial português

Operadores

+15 forças aéreas em 4 continentes

Portugal (primeiro operador europeu)

 



Conclusão

O A-29 Super Tucano consolidou-se como uma das aeronaves mais versáteis e rentáveis da sua classe, provando-se em combate e em missões de treino avançado. Já o A-29N, que equipará a Força Aérea Portuguesa, representa uma evolução significativa, ao incorporar sistemas de comunicações, sensores e defesas compatíveis com a NATO, além de oferecer um salto qualitativo na formação de pilotos e na capacidade de projeção internacional.

Com esta aquisição, Portugal não apenas moderniza a sua frota, mas também se torna pioneiro europeu na operação de uma plataforma que alia baixo custo, elevada eficácia e total interoperabilidade NATO, reforçando assim a sua relevância operacional no seio da Aliança Atlântica.


 





























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