A proposta norte-americana abre a porta a um debate
estratégico em Portugal: modernizar a Força Aérea com caças de 5.ª geração,
alinhar-se com os principais aliados da NATO e, em simultâneo, assumir os
elevados custos financeiros e logísticos de um salto tecnológico desta
dimensão.
A proposta americana
Na sua primeira intervenção pública em Lisboa, o embaixador
dos Estados Unidos, John Arrigo, foi claro: a aquisição do F-35 Lightning II
por Portugal representaria um reforço decisivo da aliança bilateral e um
passo lógico no estreitamento das relações de defesa no quadro da NATO.
“A nossa amizade baseia-se na história, na confiança e
num sacrifício partilhado”, sublinhou Arrigo, apontando que uma cooperação
mais estreita em matéria de defesa só pode ser sustentada por equipamentos
modernos e plenamente interoperáveis com os dos principais aliados.
A sugestão surge num momento em que Portugal enfrenta a
necessidade de planear o futuro substituto da frota de F-16AM/BM,
atualmente em serviço na Força Aérea.
O que é o F-35
O F-35 Lightning II, desenvolvido pela Lockheed Martin, é o primeiro
caça de 5.ª geração amplamente adotado no espaço euro-atlântico.
Caracteriza-se por:
- Baixa
assinatura radar (stealth), que dificulta a deteção por sistemas
inimigos.
- Sensores
avançados (radar AESA, Distributed Aperture System, EOTS) que oferecem
uma consciência situacional inédita aos pilotos.
- Multifuncionalidade,
capaz de executar missões de superioridade aérea, ataque ao solo,
reconhecimento e guerra eletrónica.
- Integração
em rede, permitindo partilhar dados em tempo real com outras
plataformas aéreas, navais e terrestres da NATO.
Existem três variantes: F-35A (descolagem
convencional, a mais usada), F-35B (descolagem curta e aterragem
vertical) e F-35C (otimizado para porta-aviões).
Quem já opera e quem vai operar
Atualmente, cerca de 20 países já operam ou encomendaram
o F-35. Entre os utilizadores mais avançados estão os Estados Unidos,
Reino Unido, Itália, Holanda, Noruega, Dinamarca, Israel, Japão, Coreia do Sul
e Austrália.
Nos próximos anos, Alemanha, Finlândia, Suíça, Polónia e
República Checa irão receber as suas primeiras unidades, enquanto Grécia
e Roménia estão a ultimar acordos de aquisição.
Este movimento está a transformar o F-35 no padrão de
facto da NATO e de aliados próximos dos EUA, tornando-se a espinha dorsal
da aviação de combate ocidental até meados do século.
O desafio para Portugal
Se Portugal optar pelo F-35, ganhará acesso a um dos
sistemas de armas mais avançados do mundo, mas também enfrentará desafios
significativos:
- Custos
elevados: cada aparelho ronda os 80 a 100 milhões de euros, a que se
somam manutenção, treino e infraestruturas.
- Dependência
tecnológica: a operação do F-35 implica alinhamento com cadeias
logísticas norte-americanas e protocolos específicos.
- Integração
estratégica: em contrapartida, Portugal ficaria plenamente
interoperável com a esmagadora maioria dos aliados europeus da NATO,
garantindo relevância em operações conjuntas.
Mais do que uma compra, uma decisão estratégica
A proposta americana não é apenas uma questão de armamento,
mas sim de geopolítica e de posicionamento estratégico. Ao lado de países que
já se comprometeram com o F-35, Portugal teria de avaliar se está disposto a
investir na sua modernização tecnológica e a reforçar o papel que desempenha
dentro da NATO — em particular no Atlântico, área vital para os EUA e onde o
país tem responsabilidades únicas.
Num momento em que a segurança europeia volta a estar em
destaque, a eventual aquisição de F-35 poderá definir a próxima geração da
defesa aérea nacional e marcar um novo capítulo na relação luso-americana.
Fonte: DN

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